Por Bianca Levy,
de Belém
É impossível
falar do cenário rock de Belém sem mencionar a figura de Camillo Royale, da banda Turbo. Com uma
cabeleira icônica, estilo peculiar e postura de palco frenética, ele tornou-se
mito ao roubar a cena a cada vez que sobe ao palco e entoa seus riffs,
carregados de grunge e power pop. Engana-se, porém, quem resume Royale na imagem
de rockstar. Verdadeiro entusiasta da música, o "feio" mais amado do
rock paraense é conhecido pela humildade e boa vontade ao ajudar bandas amigas,
sejam elas veteranas ou iniciantes (quem nunca viu o Camillo carregando caixas
escada acima e fazendo serviços de roadie no meio de shows, que atire a
primeira pedra!). Foi com esta autenticidade que ele compartilhou suas
memórias com a equipe do Som do Norte, falando em entrevista exclusiva
sobre carreira, relação afetiva com a música e causos do rock'n'roll, do
tempo em que as bandas de Ananindeua (a exemplo da Eletrola) começavam a
despontar. Apertem os cintos, que para rememorar a trajetória de Camillo
é preciso saturar as válvulas e acionar o turbo máximo.
Som do Norte: Como aconteceu a tua descoberta do rock? Quais
foram as tuas referências iniciais?
Camillo: Na minha casa se ouvia muita música local por
conta da minha tia, que recebia os discos da gravadora do Carlos Santos. E
também ouviam muita música clássica, então essas foram as minhas primeiras
referências quando criança. Já o Rock, eu descobri realmente aos dez anos vendo o
clipe de “Smell Like Teen Spirit”, do Nirvana.
Som do Norte: E tu consegues lembrar qual foi o primeiro
riff que tu ouviu e que te fez querer tocar guitarra?
Camillo: O riff eu não lembro, mas desde sempre quis
fazer as minhas próprias coisas, por não ser que nem o meu ídolo na infância, o
pianista Richard Clayderman. Não queria tocar música dos outros.
Som do Norte: Da teoria pra ação, depois de teres recebido
referências eruditas e populares, aonde e com quem tu começou a tocar?
Camillo: No início foi complicado. Ser guri e ir atrás
de pessoas pra montar uma banda é uma missão. Meus amigos queriam brincar, e eu montar
uma banda e ser artista. Um amigo de infância que me ensinou os primeiros
acordes, e aí eu fui tratar de fazer as minhas coisas com aquilo que eu sabia.
Som do Norte: E do ‘faça você mesmo’ e da vontade de ter
uma banda, surgiu a Eletrola. Me conta sobre esta formação e o processo de
gravação das músicas?

Camillo: A Eletrola surgiu no início dos anos 2000, no
dia em que fui visitar um amigo de infância em Ananindeua, que conhecia o
Eliézer Andrade. Nos conhecemos neste dia, e soube que ele já tocava em uma banda que
estava chegando ao fim. Conversamos sobre bandas de Rock e vimos que gostávamos
das mesmas coisas, e eu tinha uma (guitarra) Fender Stratocaster, da marca que ele gostava
também, e aí decidimos: ok, vamos tocar juntos! Quando começamos a Eletrola de
fato, começamos a ensaiar algumas músicas da antiga banda do Eliézer e depois
fomos fazendo o repertório da banda. O lance de gravar um CD depois de um tempo
ficou forte em nossas cabeças. O 1º disco foi gravado inteiro na sala da casa
do nosso amigo Paulo Lavareda num esquema hoje em dia pré-histórico (gravação
digital no Vegas! rs) mas funcionou e
ficamos felizes de nos ouvir e descobrir que tinham outras bandas fazendo
músicas naquele esquema. Com o disco podíamos mandar pra rádios e tentar fazer
shows fora. (Ouça o CD da Eletrola no blog Música do Norte)
Som
do Norte: Pra ti, quais foram os momentos mais importantes
da banda?
Camillo: Foram tantos
shows, gravações, tantas coisas! Mas de todos os
momentos, tocar fora de Belém e no Goiânia Noise me emociona até hoje. Foi uma
aula de Rock.
Som do Norte - Pra ti, de que forma a Eletrola influenciou
no andamento da tua carreira e teu desempenho depois no Turbo?
Camillo- Ensinou muita coisa! A lista é enorme, mas o
aprendizado veio mesmo com o Turbo. Ter que cantar e tocar guitarra ao mesmo
tempo, ajudou a criar o meu próprio estilo. Tudo tem um motivo pra acontecer.
Som do Norte: E o Turbo, como foi que surgiu?

Som do Norte: A Turbo
é uma banda de bagagem internacional, com masterização no Abbey Road e gravação
na Suécia. Me conta sobre esse trabalho que vocês fizeram no exterior?
Camillo: O lance
todo de irmos gravar na Suécia começou como uma brincadeira que depois levamos
muito a sério. Gravar com o Chips Kiesbye e o Henryk durante 12 horas nos 18 dias que
passamos lá é algo que nunca esqueceremos. O resultado disso vai tá no disco,
que deve sair no 2º semestre. Estamos ansiosos pra que as pessoas o
escutem. Eu sou Spartacus está vindo! (Ouça entrevista que Camillo nos concedeu logo após voltar da Suécia, em fevereiro do ano passado)
Som do Norte: É interessante que tanto a Turbo quanto a
Eletrola contavam com integrantes mulheres (Andréa na bateria da Eletrola e
Vanja no baixo do Turbo). Pra ti, qual a importância de figuras femininas em
bandas de rock? Tu achas que a cena tem um bom espaço para as mulheres ou ainda
carece de mais abertura?
Camillo: Nos dois casos foi o destino que nos enviou
estas pessoas maravilhosas, mas sinto falta de mais bandas com mulheres, é um
outro jeito de ver e pensar nas coisas. Espaço sempre tem, mas aonde estão
vocês garotas? (risos).
Foto: Andrey Moreira
(Esta imagem foi aproveitada na capa do EP da Turbo lançado
pelo Som do Norte em 2010, Fuzzilando)
Som do Norte: A falta de mulheres nas bandas abre também a
discussão sobre a atual cena de Belém. O que tu achas dela? Ela esmoreceu em
relação ao ‘boom’ que rolou nos anos 2000?
Camillo: Eu acho que não. A diferença é que naquela
época era tudo novo, mas de lá pra cá mais e mais artistas surgiram e é isso
que eu acho legal. O barco não pode parar!
Som do Norte: É verdade. E já que o assunto é o barco não
parar, quais são os projetos musicais deste ano?
Camillo: Fazer mais e mais discos e gravar com os
amigos! (risos). Estamos ansiosos para mostrar o Eu sou Spartacus pras pessoas e tocar o máximo possível!
Som do Norte: Legal, boa sorte no lançamento! Pra encerrar
a entrevista: faz aí um balanço da tua carreira.
Camillo: Tudo até hoje foi produtivo. Tive sorte de
tocar e gravar com vários amigos, pessoas comuns, mas que são meus ídolos. Fico
feliz também em ter participado de alguma forma e ajudado a divulgar os
artistas locais pra onde eu fui, seja com a Eletrola ou com o Turbo. O rock não
pára no Pará, sempre se aprende com tudo, com momentos bons e ruins, e se fosse
pra voltar no tempo eu não mudaria nada!
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